domingo, 13 de junho de 2010

A Aposta de Lúcifer

apostando as fichas em si mesmo

“Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu. Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas. Amar é correr o risco de não ser correspondido. (...) Tentar é correr o risco de fracassar. Mas devemos correr os riscos, porque o maior perigo é não arriscar nada.”- Seneca, 55aC e 39dC

“Melhor reinar no Inferno que servir no Paraíso.” - John Milton, Paraíso Perdido
“Esqueça os muitos degraus para o paraíso, ele nunca existiu, não é tão difícil assim. A felicidade é uma arma carregada e um atalho é a melhor das opções” - Sisters of Mercy, Under The Gun
 Quando Lúcifer recusou-se a prestar servidão a Jeová ele não estava simplesmente arrumando uma briga infantil, antes de qualquer coisa ele estava apostando. Por um novo reino só seu, ele arriscou tudo o que tinha sido lhe dado como vassalo celestial. Seu mito reflete uma diferença essencial que divide a postura do lobo doa postura do cordeiro. Ao dizer não a Jeová, ele arriscou o Paraíso, ele estava pondo em jogo tudo aquilo que já era seu. O risco é definitivamente a raiz de toda a rebelião e o começo da escalada rumo a divindade pessoal. Este é o maior ensinamento que a história de Lúcifer tem para nos ensinar.

O mais belo e querido dentre os anjos rebelou-se contra o senhor de todo o universo. Ele abdicou de seu lugar especial como o preferido de Jeová para fundar um novo reino que fosse totalmente seu. Da mesma maneira, para se tornar um deus, você terá que arriscar sua condição atual. Para nascer como uma estrela você terá que sacrificar seu antigo eu, frente ao altar de Moloch. 
O Satanismo não quer, como as doutrinas da luz branca, confortar os inconfortáveis. Nossa religião é uma religião de desconforto, queremos cutucar as pessoas para que elas acordem para sua situação estagnada e façam alguma coisa quanto a isso. É o desconforto que eleva a ação e a superação de si mesmo, pois só quando estamos verdadeiramente inconformados com nosso modo atual de vida é que arriscamos tudo o que há nela por algo novo e melhor. 
Um dos pecados satânicos, citados por LaVey, e na minha opinião, de importância seminal para qualquer um é o Conformismo de Massa. Abrir a mão aqui ou ali de suas particularidades, como uma ardilosa ferramenta política para alcançar objetivos maiores é aceitável, mas seguir totalmente a mentalidade das massas é trocar nossa divindade por uma vida bovinamente confortável. É preciso aprender a trabalhar em uma escala acima das multidões sabendo estar entre elas mas não ser parte delas, um pastor vive entre as ovelhas, mas não é uma ovelha. 
A maioria da humanidade é formada por estas ovelhas que não sabem correr qualquer tipo de risco. Elas nunca fazem nada diferente, nunca tentam nada novo e buscam a eterna aprovação das outras ovelhas que as rodeiam. Vivendo assim, estas pessoas evitam a dor típica sentida pela lagarta ao virar mariposa, mas jamais aprendem a voar. Elas permanecem unidas, mas jamais aprendem a correr, elas mugem em uníssono, mas jamais aprendem a falar. E no fim de suas vidas morrem, sem jamais ter verdadeiramente vivido. 
Portanto, no lugar de ter a estúpida massa como guia, e de se preocupar em pensar a e agir como ela, olhe a seu redor e procure identificar aquelas pessoas que por um motivo ou outro se destacam. LaVey ensina que a chave do sucesso é saber escolher sabiamente um tutor ou guia ao invés de ser escravizado pelos caprichos das multidões. Contudo este guia não deve ser seguido cegamente. Tenha a si mesmo sobre todas as coisas. Adorar qualquer coisa além de si mesmo é idolatria, e todos ídolos devem ser quebrados perante o deus interior.
Da mesma maneira que um vegetariano que come carne não é um vegetariano de fato, um satanista que se porta exatamente como alguém da grande massa, não é um satanista de fato. Nossa doutrina é essencialmente pragmática, e nela as ações valem muito mais do que a intenção, a prática tem um peso assombrosamente maior do que o da teoria. Desta forma não tenho dúvida que toda pessoa que, mesmo sem adotar o título de satanista, sabe arriscar e jogar o jogo da vida consta na lista negra de Satã antes mesmo dos muitos pseudo-rebeldes que rondam por ai.

É por isso que se costuma dizer que os satanistas existiram antes mesmo do Satanismo. Como religião estruturada, o Satanismo Moderno só tomou forma na década de sessenta. Contudo sempre existiram pessoas que tiveram uma postura realmente satânica perante a vida. Pessoas que entenderam a brevidade da existência e portanto escolheram a liberdade à escravidão. Somente uma pessoa como esta sabe correr riscos e é de fato livre. Seja qual for o rótulo que esta pessoa adotar, ela é certamente satanista.
O caminho de Satã é uma via que exige coragem de arriscar a própria pele. Essa atitude pode com certeza nos levar a momentos difíceis e a perdas irreparáveis. Mas é preciso lembrar que você está escrevendo livro da sua vida agora, neste instante. Maldito é todo o capítulo que não der uma boa história ou que permanecer inacabado. Esta é a aposta de Lúcifer, o cargo de um anjo pelo título de um deus. A escravidão em um paraíso infernal pelo reinado em um inferno paradisíaco.