sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os Gêmeos Sombrios

 

- destruição e criação como ferramentas transformadoras -
 

Todos os deuses e todos os demônios são apenas reflexos de um deus maior que é o ser humano. Todos os homens e mulheres são uma Legião diferente, composta pelos mesmos deuses e demônios.  Um satanista portanto, conhece a diferença entre os arquétipos de Lúcifer e Satã, mas sabem que ambos são parte de um todo maior, e como ambos representam momentos necessários para a emancipação do Eu Superior.
Lúcifer e Satã são os chamados Gêmeos Negros do Satanismo Moderno, pois representam dois princípios universais inerentes a qualquer processo de transformação.  Talvez seus papéis sejam melhor entendidos se  apelarmos para uma visão paralela de um outro mito distinto da escatologia abraâmica mas que seja igualmente representativo. A mitologia Egípcia se presta com perfeição a esta função, dada sua riqueza de significados.
Comecemos com Satã,  o Profeta do Eu Superior, o guardião da sombra e arauto do Self. Satã relaciona-se profundamente com a figura do deus egípcio Seth, ambos são faces distintas de uma mesma representação do inimigo primordial do status quo,  que na verdade formam em conjunto atores diferentes de um mesmo papel arquetípico, inerente ao inconsciente coletivo. É interessante então conhecermos o mito de Seth para compreendermos com maior riqueza de detalhes a importância de Satã no estabelecimento do Self.
Temos que lembrar que na mitologia egípcia, Ísis, fez nascer Osíris de si mesma. Isis é a mãe primordial uterina comum a tantas culturas, representa a terra e a comunhão feminina com a natureza,  a ligação com a Terra, o primeiro Aeon. A Era de Isis é a mesma era que os wiccans de hoje buscam trazer de volta à tona, ignorando que talvez nem mais sua mãe nem seus filhos são os mesmo de outrora.
Osíris, como era de se esperar, não pode compreender sua Mãe e subjulgou-a e a escravizou, consumando assim o reinado patriarcal, o segundo Aeon que teve seu ápice na ascensão do cristianismo, e que se caracterizou por uma postura antinatural e apolínea com ar de santidade metafísica.
Assim sendo, Seth, assassina Osíris que é seu próprio irmão esquartejando seu corpo e espalhando-o ao longo do Nilo, e é exatamente por isso que, como Satã, ele é tido como o deus inimigo, o deus da guerra, da desordem e da destruição. E isso não é mentira, Seth é de fato inimigo, guerreiro, desordeiro e destruidor de toda a mentalidade escravocrata dos tempos antigos e do reinado de Osíris. Este é o papel de Satã, opor-se a uma mentalidade antiga para que algo novo possa surgir.
Como eu disse, a mentalidade humana tanto dos filhos como dos deuses, já não era a mesma. O que aconteceu foi que Isis havia se acostumado com seu papel de escrava. Com a morte de seu esposo e senhor, sem orientação passou a contornar todo o Nilo recolhendo os restos de seu falecido Osíris. Com seus pedaços em mão o devolveu para seu útero e lá este foi recriado como Hórus, o novo deus regente.
Microcosmicamente isso simboliza a emancipação do ser em uma nova postura de reconhecimento do Self. Macrocosmicamente simboliza o Inicio do Aeon de Hórus, da Nova Era, ou da Era Satânica, se assim preferirem chamar. Neste caso Hórus corresponde perfeitamente com alguns aspectos do mito de Lúcifer. Tanto um como outro são reis de um novo reino. Assim como Lúcifer, Hórus se rebela contra o sistema imposto por seu antecessor, em primeiro lugar libertando sua Mãe e em segundo destruindo todos os preceitos que Osíris instituiu, e por fim vingando a morte de seu “pai”.
Podemos constatar que se não fosse Seth, Hórus jamais nasceria e o Aeon de Osíris nunca se transformaria, seja no coração do homem seja manifestando-se em mudanças sociais no nosso planeta. Por outro lado, se não fosse Hórus, de nada adiantaria a vã oposição de Seth e o jugo totalitário de Osíris continuaria existindo mesmo sem ele. Ambos são de fato tão importantes para o estabelecimento do Novo Reino que após libertar sua Mãe, Hórus mata Seth e o absorve em si mesmo tornando-se um só com ele.
Igualmente unos
Satã é a luta, o poder, e a oposição a tudo que só serve para subjugar o ser humano. Lúcifer é o arquétipo da iluminação, do estabelecimento do novo. Cada um tem o seu papel na realização suprema do ser humano e ambos são igualmente importantes. Isso fica claro no provérbio chinês que diz; “se o velho não vai o novo não vêem”.
Satã sem Lúcifer é simples destruição que termina em niilismo e vazio. Lúcifer sem Satã é uma infrutífera busca por algo novo sem se desprender dos antigos grilhões.  Estes são somente nomes para momentos diferentes do reconhecimento do nosso Self. Contudo cada momento é essencial na medida em que morte e nascimento, guerra e paz, amor e ódio, negação e afirmação são igualmente importantes para o nascimento de uma Nova Era Satânica.
Metamorfosear-se no arquétipo de Satã e mais tarde no de Lúcifer e então uní-los para a ascensão do Self, são os passos igualmente importantes para opor-se tanto ao sectarismo quanto ao substancialismo. Quando isso acontecer na mente de cada satanista então, assim como era antigamente, tanto Hórus como Seth, tanto Satã como Lúcifer, estarão presentes para o dia da coroação em que um novo deus despertará sobre a terra para dominá-la.  Dotado da dupla coroa, poderá então desvelar seu Eu Superior e abraçará a liberdade perfeita que só existe no ventre de Baphomet.

sábado, 22 de maio de 2010

A Criatura do Abismo

- Leviathan e o abismo interior -

“Quem parte para lutar com os monstros deve acautelar-se pois se torna um monstro também, quando você olha para o abismo ele olha de volta pra você." -  Friedrich Nietzsche

“Há uma besta no homem, que precisa se exercitada, não exorcizada.” - Anton Szandor LaVey

O Coração de todo homem e toda mulher é como um oceano do qual muitos só conhecem o exterior. Mergulhar nestes mares é tarefa dos poucos que tem coragem o bastante para atirar-se em direção a sua própria imagem refletida no espelho d’agua e encontrar assim realidades insuspeitas no fundo do abismo interior. A lei dos fracos é aprender a boiar e se deixar levar pela correnteza sem nunca submergir a cabeça e abrir os olhos para níveis mais profundos de compreensão. Para muitos é difícil aventurar-se neste oceano, pois no fundo deste negro mar habita um monstro que é arredio e repulsivo ao olho do covarde, mas que é um verdadeiro amigo do satanista. Esta criatura recebe o nome de Leviatan, o príncipe coroado do inferno que raramente sobe à superficie das personalidades fracas, senão para destruí-las.
Leviatan é um dos quatro arquétipos básicos do satanismo e é certamente o mais misterioso dentre eles. Não é intrigante o fato de poucos satanistas conhecerem este demônio a fundo, afinal, o mistério e o enigma são de fato parte integrante de sua própria definição como forma-deus. A criatura do abismo é um ser fugidio por natureza. Seu nome vêem do hebraico e significa “Serpente Tortuosa” e relaciona-se por excelência com seu elemento, a água, mais especificamente com o mar. Assim como os oceanos são poderosos e misteriosos, Leviatan é, ao mesmo tempo, um gigante, e mesmo assim, raramente visto. Ele (ou Ela) possui aspectos multiformes, estonteantes e vertiginosos, mas sempre ocultos. Desta forma este representa o início da emancipação com a "Visão do Abismo", ou seja, ele convida todos a compreenderem e aceitarem do lado sombrio da mente humana.

A Grande Serpente do Mar é conhecida e temida por sua bestial ferocidade. Ela destrói tudo e todos aqueles que estão em sua frente mas curiosamente defende os pequenos peixes e seres marinhos que vivem nas mesmas águas em que habita. E é exatamente este o proceder de nossa Sombra interna. Em psicologia aprendemos que a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, onde fica registrado tudo aquilo que é reprimido pela consciência, incluindo desejos sufocados, memórias esquecidas, e tendências e experiências rejeitadas pelo indivíduo.

Leviatan é formado por todos estes agregados psíquicos. Ele é o Self Negativo que precisa ser conhecido e aceito antes de partirmos rumo ao Self Total e à articulação plena com Baphomet. Quando não é reconhecido pela consciência Leviatan pode se tornar um perigoso inimigo, pois a pessoa passa publicamente a projetar seus “defeitos” nos outros e aprende a secretamente odiar a si mesmo. Isso, é claro, quando tudo aquilo que acumulamos de medos e conflitos internos não se manifesta fisicamente na forma de comportamento auto-destrutivo e doenças psicossomáticas.

O primeiro passo da jornada satânica é portanto corajosamente mergulhar no mar interior e procurar reencontrar este nosso esquecido amigo. Quando tudo aquilo que antes recusávamos em nós mesmos se torna consciente a Sombra pode manifestar-se como parte integral de nossa própria natureza. É preciso reconhecer esta nossa fera interna, o lado animal do ser humano renegado às sombras da psique, que mora no abismo e no mar negro que alguns chamam de mente.

Este nosso lado jamais poderá ser eliminado, pois mesmo quando fortemente reprimido, como acontece com os devotos religiosos e com os seguidores misticalóides do caminho da luz, ele jamais pode ser morto definitivamente. Quando ferido Leviatan se retira para as profundezas inalcançáveis da mente, onde se fortalece e usualmente retorna com mais força e poder, até que invariavelmente exploda compulsivamente no comportamento da pessoa. Este príncipe Infernal constantemente sobe à tona de seu negríssimo mar e pode ser visto em sonhos, atos falhos e projeções psíquicas urrando tudo aquilo que todos aqueles que o negam gostariam de esquecer.

Ganhar a amizade de Leviatan é passar a conviver com ele em suas águas, se aceitando por completo sem renegá-lo. Por isso a importância de rituais Licantropos que servem para guiar o adepto no auto-conhecimento de seu lado negro vivendo em uma comunhão draculesca entre a fera e o nobre. Lembre-se sempre disto: Leviatan não pode ser morto, não pode ser esquecido, não pode ser ignorado. Ele está sempre lá, mais perto de você do que sua veia jugular, ameaçando seus opositores a sofrer explosões de raiva e irracionalidade provocados por sua revolta.

Por fim resta dizer que a fera do abismo chamada Leviatan é muito mais do que simplesmente impressões rejeitada em nossa psique. Este príncipe coroado do inferno é também um depósito de considerável energia instintiva, energética e criativa que pode ser usado com maestria por quem tiver a coragem necessária. Mas vede irmãos em Satã! não é à toa que seu nome é Serpente Tortuosa! Pois quando pensamos que finalmente a reconhecemos e a capturamos ela desaparece e reaparece sob outra forma. Conviver com Leviatan é um trabalho diário para toda a vida, especialmente para aqueles que buscam o aprimoramento pessoal. Por mais paradoxal que pareça a principio, ter defeitos é certamente uma das características de um ser perfeito e a chave para o sucesso é um profundo entendimento sobre si mesmo. Olhar para o espelho da alma e, sem receio nenhum, refletir sobre o que é visto por lá.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Discrição, a maior astúcia do Diabo


- o poder do silêncio -

"Uma palavra vale uma moeda. O silêncio, duas."- Provérbio Iídiche

"Se não conto o meu segredo, ele é meu prisioneiro. Se o deixo escapar, sou prisioneiro dele. A árvore do silêncio dá os frutos da paz." - Arthur Schopenhauer

“É melhor manter a boca fechada e deixar as pessoas acharem que você é um tolo do que abri-la e provar-lhes que estão certos.” – Mark Twain

Sim, o Satanismo é a religião dos fortes. Sim, o Satanismo é a doutrina da auto-aceitação. Sim, o Satanismo é o caminho do Eu - de pensar em si mesmo, antes de todas as outras coisas. Mas não, você não precisa gritar aos quatro cantos do mundo que você é satanista. Isso na verdade pode ir contra o primeiro “pecado” satânico a estupidez. Você poderia perder a credibilidade, ganhar inimigos e perder chances na vida pelo simples fato de admitir publicamente que é parte da maior e mais forte religião de todos os tempos. 

Não é preciso que todos os que você conheça, saibam que você é satanista, não nos esqueçamos que vivemos no maior pais católico do mundo e que os cultos evangélicos estão cada vez mais disseminados. Nunca se esqueça disso, A MAIORIA DAS PESSOAS SÃO PRECONCEITUOSAS, e julgarão você por preceitos judaicos cristãos e por exemplos hollywodianos sem nem mesmo querer conhecer você antes disso, eles não respeitam a coisa mais importante no ser humano: sua individualidade. Talvez só alguns poucos possam ser dignos de saber de sua condição como satanista, seus melhores amigos, seu companheiro ou companheira amorosa e provavelmente ninguém mais. Afinal no Satanismo é Você o que importa, se você sabe, aceita e entende o fato de ser satanista e está sempre atrás de auto-aperfeiçoamento não é preciso que ninguém no mundo mais saiba disso. Você já sabe e é isso que importa.


Mas, como eu disse, se você quiser pode contar sobre o seu caminho para, por exemplo, o seu melhor amigo e ele poderá se interessar e ai então você poderá contar a ele sobre tudo o que conhece, e é assim que surgem novos satanistas, surgem dos poucos e dos forte, e não ao meio dos gritos irracionais de um rebanho de ovelhas.

Charles Baudelaire em suas “Litânias a Satã” escreveu: “A maior astúcia do Diabo é convencer-nos de que ele não existe”. E há realmente um fundo de verdade nesta frase. A discrição pode ser a arma mais poderosa de nós diabos, satanistas que somos. É um tremendo erro de Baixa-Magia (político/social), querer ganhar inimigos à toa, quando temos a oportunidade brilhante de sermos o lobo entre os cordeiros, e desfrutar de todos os bens que esta posição pode trazer.

Alguém pode argumentar que LaVey jamais escondeu ser um satanista, e isso é verdade. Contudo devemos lembrar que LaVey vivia do Satanismo. Ele participava de programas na televisão, dava entrevistas para rádios e jornais, aparecia em 88 revistas e dava palestras, e usava toda essa propaganda para vender seus livros, seus cd’s, conseguir novos membros para sua igreja, casa um pagando a taxa de U$100,00 dólares de admissão, se engajava em novos projetos, etc, satanismo era a profissão dele e ele precisava que todos soubessem disso para viver. Você faz isso? Você precisa disso? Você acha que uma publicidade dessas vai fazer tão bem para sua carreira como fez para a dele? Então já em frente.

A maioria das pessoas não precisa sair gritando nas ruas “Eu Sou Satanista”. Você não precisa dizer a todos que encontra aquilo que é, a não ser que a opinião dessas pessoas seja verdadeiramente importante para você, ou que você saia ganhando algo com isso. A verdade é que você não precisa dizer a ninguém. Você pode; mas não precisa. Afinal não deve haver no mundo pessoa mais importante do que você, não deve haver opinião mais importante do que a sua.

O significado de Shemhamforash


A Origem do Shemhamforash


Desde que Anton Szandor LaVey formalizou na sua Bíblia Satânica a liturgia satânica básica com as cerimônias de Compaixão, Luxúria e Destruição, seus rituais satânicos foram sempre encerrados com uma misteriosa assinatura na qual os participantes entoam a palavra Shehamforash. Entender o sentido por trás desta palavra é, portanto essencial para o Satanista que não quiser limitar-se a uma ritualística superficial, e será recompensador para aqueles que entendem que o maniqueísmo é um obstáculo para o livre-pensamento.


"Shemhamforash," é uma corruptela de Hashem Hameforash, a transliteração para as palavras hebraicas que significam "O Nome Explícito", mais especificamente o nome oculto do deus hebreu. O fato de LaVey usar esse nome nos rituais satânicos é intrigante. A resposta mais comum é que uma vez que este seria o nome “secreto” de Deus, citá-lo em um contexto satânico seria a maior  de todas as blasfêmias. Contudo esta é uma visão bastante limitada da questão.


A verdade é que, como muito da cultura judaica, esta expressão se tornou alvo de muita confusão e suspeitas com o advento da Cristandade durante a Idade das Trevas. Já no ano de 240, São Cipriano, bispo de Cartago escreveu emblematicamente: “O diabo é o pai dos judeus", mas foi só depois que Santo Agostinho concluiu em sua obra que os judeus carregariam eternamente a culpa pela morte de Jesus que a grande onda de diabolização começou. Durante toda a idade média quando os cristãos reinavam o povo judeu ficou conhecido como os verdadeiros praticantes das artes negras assassinos do salvador que realizavam os mais hediondos rituais. As ruas judias eram vistas com medo e apreensão e a histeria chegava ao ridículo de se acreditar que os judeus usavam kepah e chapéus para esconder seus chifres e capas para esconder seus rabos. Quem quer que admitisse ser judeu era fortemente repelido ou dependendo da época executado e quem quer que escondesse isso era acusado de se fingir cristão só para profanar a missa. Mezuzzá e Tefilins tornaram-se sinônimos de uma identidade satânica. Da mesma forma em meados de 1500, a expressão “Shemhamforash”, antes parte exclusiva da cultura judaica migrou para o imaginário cristão como uma palavra maldita usada durante as Missas Negras.


Quando Roma foi vítima de um terremoto na Sexta-Feira da Paixão no ano de 1021, os judeus foram presos e acusados de terem furado uma hóstia com um prego. De fogueia e fogueira, a lista de acusações é interminável. Até o reformador Lutero não ficou livre do medo dos judeus. Em 1543 escreveu seu próprio manifesto "Sobre os Judeus e Suas Mentiras”, onde propunha a destruição e o incêndio de todas as sinagogas que segundo o Pai da Igreja João Crisótomo eram lugares de blasfêmia, asilos do diabo e castelos de Satanás.


Como se isso não bastasse séculos mais tarde Shemhamforash foi o título de um texto cabalista sobre invocações e ataques mágicos a inimigos que foi utilizado como parte do famoso grimório intitulado "O Sexto e Sétimo livros de Moises" e cuja mera posse já era um bom motivo para ser condenado a queimar para sempre no inferno cristão.  Foi provavelmente neste livro que Anton LaVey conheceu a expressão e decidiu que seria uma apropriada "palavra de poder" para o ritualismo satânico.


No grimório em questão, assim como em outros livros posteriores, Shemhamforash aparece como uma referência aos 72 nomes ocultos de IHVH. Utilizando estes 72 nomes tudo seria possível aos homens. No Sêfer HaRaziel (Livro de Raziel), supostamente o mais antigo livro de cabala, temos instruções precisas sobre o uso mágico e meditativo de cada um destes nomes. Conta à lenda que este livro foi escrito por Adam (Adão) ditado por um anjo e passado então de mão em mão por todos os patriarcas até Shlomó (Salomão) que com eles subjugou a terra, os homens e os deuses.  E ainda, os 72 nomes teriam sido usados na própria criação por JHVH e que se entoados de uma certa maneira poderiam causar também a completa destruição de tudo o que existe.


Segundo Aleister Crowley esta afirmação pode ser entendida como a dos hindus, que dizem que a efetiva pronunciação do nome de Shiva irá acordar este deus e isso destruiria o universo. Em “Magick in Theory and Practice” Crowley alerta que para alguns isso pode parecer “maligno” e “opressor’, mas que não é este o caso. Diz ele: “A mente normal é como uma vela em um quarto escuro. Abrir as janelas e a luz do sol fará invisível a chama da vela.” . A vela não diminui seu brilho, tão pouco deixa de queimar, mas enfrenta agora uma realidade muito maior do que a que estava acostumada e sua luz se confunde com a luz do sol. Semelhantemente Shemhamforash daria aos homens a Visão de Pã e a pequenez anterior já não teria mais nenhum sentido.


Para alguns estes nomes seriam os nomes de 72 anjos a serviço de Deus, outros ainda podem supor também que haja uma relação com os 72 demônios goéticos. Mas nenhuma destas duas abordagens poderiam satisfazer um cético como LaVey. Por isso, talvez a perspectiva mais adequada e proveitosa seja a de encarar cada um dos nomes como sendo apenas 72 perfectivas, ou ainda 72 ângulos de uma mesma essência.  Se fizermos isso não haverá mais diferenças entre Hostes Angélicas e Hordas Infernais, uma vez que todas estariam submetidas ao mesmo “Nome Explícito”. Curiosamente 72 tem o mesmo valor numérico que 666, ambos somam 9, o número satãnico por excelência, o número do ego.


Agora, por mais racionalista que LaVey tenha sido, é inegável que ele foi um grande conhecedor da Qaballa e assim como fez com as chaves enoquianas tinha uma abordagem bem própria do significado oculto do Torah. Os 72 nomes invocados com Shemhamforash são retirados alguns versículos do Sêfer Shemot, (Livro de Êxodo 14:19-21). Cada um dos 3 versículos contém exatamente 72 letras e eles são a base para a construção dos 72 nomes, cada um deles com 3 letras. O primeiro nome é formado pela primeira letra do primeiro versículo, a última letra do segundo e a primeira do terceiro. Este padrão, frente-trás-frente é seguido até a formação das 72 tríades.


Os três versos são:


"E moveu-se o anjo de Elohim, o que andava diante do acampamento de Israel, e foi para atrás deles; e moveu-se a coluna de nuvem defronte deles. E pôs-se atrás deles.
E pôs-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento de Israel; e foi para estes nuvem como escuridão e para aqueles iluminava a noite; e não se aproximaram um do outro toda a noite
E estendeu Mosheh sua mão sobre o mar e levou IHVH o mar com um forte vento oriental, toda a noite e fez o mar terra seca e foram divididas as águas."


Significado do Shemhamforash


Um breve estudo destes versículos feito sem os pressupostos de bondade e salvação geralmente usados para ler as escrituras, pode ser bastante esclarecedor. Voltemos então ao Sefer Shemot 14:19-21


E moveu-se o anjo de Elohim, o que andava diante do acampamento de Israel, e foi para atrás deles; e moveu-se a coluna de nuvem defronte deles. E pôs-se atrás deles.”


Uma mudança drástica de posicionamento. Uma grande inversão acontece. O Anjo de Deus e a coluna que estavam à frente colocam-se agora na retaguarda. Seres humanos marcham na frente e o próprio símbolo de deus se põe atrás. Bastante claro e objetivo.


“E pôs-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento de Israel; e foi para estes nuvem como escuridão e para aqueles iluminava a noite; e não se aproximaram um do outro toda a noite.”


Enquanto os egípcios enxergavam escuridão e trevas os hebreus conseguiam ver iluminação. Uma mesma fonte é portanto luz para uns e escuridão para outros. Nada mais precisa ser dito aqui.


E estendeu Mosheh sua mão sobre o mar e levou IHVH o mar com um forte vento oriental, toda a noite e fez o mar terra seca e foram divididas as águas.”


No terceiro e último versículo lemos que IHVH fez do mar terra seca após um sinal de Mosheh. O último ato de liberdade, foi cumprido por IHVH e iniciado por um humano.


Dividir o mar é até hoje entendido como um sinal de libertação de quem era escravo no Egito. Shemhamforash então lembra quem o entoa de que ele não é escravo, mas um homem livre. É interessante notar que IHVH não abriu sozinho o mar, mas antes, ordenou que Mosheh participasse do milagre. Pouco antes destes versículos lemos em 14:15 que quando invocado na frente ao Mar Vermelho IHVH retruca para Mosheh:


"Que clamas a Mim? Fala aos filhos de Israel que marchem."


O Deus de Israel condena as reclamações lamuriosas do povo e exige esforço e trabalho humano para que resultados sejam atingidos. Quão diferente não é isso do judaísmo Pós Paulo de Tarso. Como deus supremo IHVH não teria problemas em transportar automaticamente todo o povo do Egito para o Monte Sinai e não teria problemas em fazer os Egípcios se perderem ou mesmo morrerem sem ter que sair do Egito. Mas não é desta forma que a nos conta a Torah. Ao invés disso ele diz a Mosheh em 14:16:


”Levanta tua vara e estende a tua mão sobre o mar e fende-o.". Deus ordena que o próprio Mosheh fenda o mar.


Necropsia da Moral Talmúdica





Portanto vemos sem dificuldades que os versículos invocados em Shemhamforash são bastante esclarecedores. A visão igrejeira do deus monoteísta é claramente negada e podemos começar a traçar uma fina costura entre o Satanismo de hoje e os Hebreus ancestrais. Não é segredo que LaVey era ele mesmo descendente de judeus e um entusiasta do moderno estado de Israel. E em alguns capítulos de seu último livro “Satan Speaks!” ele explica que o judaísmo foi, querendo ou não, muitíssimo influenciado pelo cristianismo mas segundo suas próprias palavras:


 “Não há mais uma tendência de permanecer “bom”. Isso era para aqueles velhos e humildes judeus do Talmud. Que nunca tiveram a intenção de fazer barulho e desesperadamente tentaram ser aceitos em uma comunidade não-judia


Este tempo acabou, não é mais preciso prender-se a metafísica e moralidade da cristandade. Alguns poucos já reconhecem novamente que o Deus e o Diabo da mitologia hebraica são uma só e mesma coisa em todos os sentidos que e transparece como um  deus tribal, que tem como reino a Terra, e cuja aliança contém promessas e castigos terrenos.


Curiosamente, quando Mosheh (Moisés) pergunta diante da sarça ardente o nome de Deus, este dá a imortal resposta as traduzida como Eu sou o que sou”, no sentido de que “Eu crio o meu ser.” é o Próprio nome IHVH compõem os verbos ‘foi’ (HIH), ‘é’ (HVH) e ‘será’ (IHIH). Não exige, portanto nenhum esforço relacionar isso tudo com a palavra Xeper ("Kheffer"), que como ensina o Templo de Set, é a palavra da Era de Set, ou da Nova Era Satânica. Xeper, significa "Eu Tenho Vindo a Ser" ou ainda "Eu Tenho Criado a Mim Mesmo", refletindo o Self e a natureza veneradora da consciência que caracteriza nossa religião.


Na Doutrina Secreta, Blavatsky nos lembra que segundo a interpretação correta do capítulo IV do Sepher Bereshit (Livro de Gênesis) Caim é idêntico a IHVH e que conforme os ensinamentos rabínicos “Caim é filho de Eva e Samael, o demônio que tomou o lugar de Adão. Vê-se então claramente uma profunda relação de identidade entre Satã, Jehovah e a espécie humana ou (Jah-Hova, Macho e Fêmea).  Talvez por isso em toda Torah o Eterno mostre um comportamento extremamente  humano, cultivando ciúmes (e não precisaria ser ciumento se não houvessem outros deuses), amando, odiando, se vingando, se arrependendo, fazendo amizades, mentindo, e até mesmo tentando ao erro como fez a Serpente do Éden. Serpente que aliás esta largamente identificada com Jeová e o povo judeu até a funesta reforma religiosa iniciada por Ezequias e completada por Josías.


É bem distinta a realidade judaica antes e depois da época dos Reis. E o processo que começou com a crise da monarquia seguiu com o extermínio de Israel, o surgimento do cristianismo e por fim a completa inversão de valores descrita por Nietzsche. Numa referência ao Shemhamforash é como se os próprios judeus voltassem para trás da coluna de nuvens e retornassem correndo para a escravidão nas mãos do faraó. 


Em, “O Anticristo” Nietzsche explica que primitivamente, sobretudo na época dos Reis, Israel encontrava-se perante tudo em relação justa, ou seja natural. O seu IHVH era a expressão do sentimento de poder, do prazer e da esperança em si mesmos: dele se esperavam a vitória e a salvação, com ele se confiava na natureza e em que ela daria o que é necessário ao povo – principalmente a chuva. IHVH é o deus de Israel e, por conseguinte, o deus da justiça:lógica de todo povo que possui o pode e a consciência tranqüila. É no culto solene que se manifestam estes dois aspectos da afirmação própria de um povo: mostra-se agradecido pelos grandes destinos que o elevaram a dominação, sente gratidão a regularidade do ciclo das estações e por qualquer êxito na criação  dos animais e na agricultura.


Mas com a morte de Shlomó a luta de poder entre as tribos determinou a divisão da monarquia em dois reinos, Judá ao Sul e Israel ao Norte. Este cenário conturbado assistiu uma profunda decadência religiosa. Ezequias e Josías marcaram definitivamente o fim da era dos reis e guerras e iniciou um período de profetas e profecias. Eles promoveram a “purificação” do Templo, retirando de lá os objetos referentes a deuses menores como Baal e Dagon deixados pelos reis e sacerdotes predecessores. Não só isso como também, novamente segundo Blavatsky todos os símbolos que representavam o Deus Grande ou Supremo de todas as nações passaram a receber o estigma demoníaco.


O antigo Deus estava enfraquecido e nada mais podia fazer e os profetas trataram de modificar a noção de IHVH. A destruição de Israel em 721 foi o auge da atividade profética, que viam no extermínio do Templo, castigo de um deus ofendido. Voltando a Nietzsche “Com desprezo ímpar por toda a tradição, afrontando toda a realidade histórica, transcreveram em sentido religioso o seu próprio passado nacional, isto é, fizeram dele um estúpido mecanismo de salvação: a ofensa contra IHVH merece punição; o amor a IHVH merece recompensa.”. Enfraquecidos pela divisão política e religiosa não demorou para os estados hebreus serem atacado pela Assíria e depois disso dominado sucessivamente até a esperada Era Messiânica, quando então seriam livres por um Rei casa e da família de Davi.





Por um Judaísmo Satânico





O judeu do futuro deverá abandonar o papel de sofredor. Tendo passado por uma infinidade de perseguições pelo fogo da inquisição e pelo sufoco do holocausto a comunidade judaica começa a entender que a Era Messiânica não vai chegar. Pelo menos não da maneira como eles esperavam. Dois mil anos profecias, sonhos, lamurias e orações durante a diáspora não adiantaram em nada para fazer os judeus retornarem a Terra Santa.


Da mesma forma que Mosheh teve que fender ele mesmo o mar para ser livre, Israel só ressurgiu como nação quando algumas pessoas tiveram a determinação de agir, marchar e combater para atingir seus objetivos. Quando relembraram as palavras do Torah: “Que clamas a Mim? Fala aos filhos de Israel que marchem."


Essa é a única Era Messiânica que se pode esperar, é a Nova Era Satânica que vem para livrar os judeus de toda essa carga de escravidão moral e metafísica com o qual se acorrentou nos últimos milênios. É no mínimo interessante constatar que foi justamente em 1966, o ano de formação da Igreja de Satã e promulgação da “Nova Era Satânica” que tivemos a primeira resposta militar contra o terrorismo árabe que levaria Israel a guerrear e se fortalecer contra seus vizinhos na famosa Guerra dos Seis Dias.


Isso tudo abre largas margens para que os judeus se integrem ao Satanismo, não tanto como uma nova forma de judaísmo, mas com um resgate da antiga forma de ser judeu. As mitsvót deixam a antiga e errônea tradução de ‘mandamentos’ para retomar o sentido original da palavra; ‘conexões’. O homem então se reconhece como o seu próprio Redentor e a unidade com IHVH é retomada. E mais do que isso, todo e qualquer evento humano que traga a liberdade passa a possuir um significado messiânico.


Isso é claro não é para todos. É esperado que por muito tempo a maior parte do povo judeu permaneça vivendo de lendas e tentando parecer ‘bom’.  O Sentido original da palavra Messias (Mashiach) é referente a aquele que recebe unção material como sinal e expressão de uma tarefa especial. Não é uma identificação para as massas mas sim um título para Reis e Sacerdotes capazes de entoar com propriedade o Shemhamforash. Palavras esta que contam as lendas semitas estavam inscritas no cajado de Mosheh. O mesmo cajado que mais tarde se transformou em Serpente na frente ao Faraó.


Se Satanismo pode ser definido como a releitura de antigos estigmas, então certamente os judeus têm muito o que reler. Por exemplo, o Sabbath, dia de sagrado dos hebreus foi depois do Livro “Malleus maleficarum”, do século XV, transformado no imaginário popular numa verdadeira reunião de demônios e bruxas, com direito a danças obscenas, caldeirões, blasfêmias e deliciosas criancinhas não batizadas para o jantar. O Sabbath descrito no Malleus incluía é claro o obsceno beijo ritual do traseiro do Diabo. Oras, mas se o Diabo é um reflexo inverso de IHVH, beijar seu traseiro é também beijar a face de Deus.


Essa nova postura já transparece no moderno símbolo de judaísmo, a Estrela de Davi. Note que este símbolo gráfico não era usado nem pelos hebreus da época talmúdica nem pelos hebreus da diáspora, mas foi somente adotado oficialmente no começo do século XX quando foi proposto pelos Primeiro Congresso Sionistas, em Bruxelas. E o que é esta estrela hexagonal senão a estrela de uma nova manhã? O hexagrama cósmico é formada por dois triângulos superpostos e entrelaçados indicando a união do divino e do humano, do sagrado e do profano e os dois abismos que refletem um ao outro. Um novo sinal para uma nova era. 


O Assunto é extenso e daria para se escrever vários livros resgatando a união entre IHVH, Satã e os judeus. Hoje, o satanismo retoma diabo como o ser das trevas que se faz anjo de luz, e deus como um ser da luz que se oculta nas trevas. Um deus que trabalha sob muitas formas, que queima como sarça ardente e colunas de fogo, que luta fisicamente com Jacó e que fala e age por meio de enviados angelicais incluindo é claro um anjo belíssimo que não precisamos sequer citar o nome aqui.


Assim, não parece mais insana a afirmação de LaVey em Satan Speaks!, de que os Satanistas tenham afinidades tanto com certos elementos do Judaísmo como com alguns aspectos do Nazismo. As antigas lendas devem ser reconhecidas como lendas e o passado reconhecido como passado. A narrativa ancestral não precisa ser abandonada, ela simplesmente troca de pele como um ofídio e renasce no Satanismo como mitologia, história e cultura de um povo, que abandonou o deserto niilista e fincou profundamente os pés no chão da Terra Prometida. O judaísmo é uma religião que sempre soube se refazer e se transformar durante as mudanças dos séculos. Está na hora dela se transformar outra vez.



Litanias de Satã

Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E que, vencido, sempre te ergues mais brutal,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão familiar das humanas insânias,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas pelo amor às delícias do Céu,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste a Esperança, - a louca fascinante!

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que faz ao pé da forca o povo desvairar,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que sabes onde é que em terras invejosas
O Deus ciumento esconde as pedras preciosas.

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, magicamente, abrandas como mel
Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De poder misturar ao enxofre o salitre,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte do Creso implacável e vil,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Do exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O deus Padre, expulsou do paraíso terrestre

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

terça-feira, 18 de maio de 2010

O poder das Trevas


Se alguém retirar todos os astros do universo, só permanece a escuridão. Se você fechar os olhos é a escuridão que você vê. Do mesmo modo, é no interior da terra, no seu breu, que a semente tem tranqüilidade para se desenvolver. É no interior do útero materno, bem escuro, que o feto se desenvolve em segurança. É neste segredo, neste silêncio, neste vazio, nesta escuridão, que as coisas acontecem. Na realidade, a luz só existe para confirmar a existência das trevas.


Se você fecha os olhos, a escuridão está lá. Contudo, ela é mágica. Pouco tempo depois, você começa a perceber umas luzes, algumas formas, pode até ouvir vozes, começa a ocorrer a recriação do seu cosmos interno.


As trevas universais têm recebido inúmeros nomes, dependendo do enfoque. Só para citar alguns:


  • em Qabalah, fala-se no Ain Soph Aur, luz negra ilimitada, de onde surgem todas as emanações
  • em Thelema, menciona-se Nuit, como o imenso negrume criativo do universo, a consciência absoluta
  • em ensaios junguianos, trabalha-se com a Sombra, esta parte reprimida no interior humano, que se traduz num potencial altamente criativo


Na escuridão da noite, ninguém vê a pessoa, ela permanece oculta. Daí o arquétipo da cor negra estar associado à neutralidade, proteção, e não ao mal que os adeptos das religiões divinas sempre lhe atribuíram. Como o verde é a imagem da rica variedade da natureza, vincula-se à idéia do dinheiro. O vermelho é sempre sinal de fogo na mata, logo é usado nas placas sinalizadoras de atenção ou perigo, como o semáforo do trânsito impondo a parada obrigatória do veículo no sinal. Afinal, um incêndio florestal é sempre perigoso, bem como uma batida no trânsito.


Uma planta só nasce, porque as suas raízes estão ocultas dentro do solo, no útero de Gaia, a mãe Terra, à espera do sêmen representado pela chuva. Na realidade, a semente é um óvulo e a chuva, o espermatozóide. É neste segredo, neste útero debaixo da terra, nesta sombra, que ela cresce. Quando a árvore cresce e você colhe os frutos, é também na sombra que vai sentar para comê-lo, e não sob o sol escaldante. A sombra refrigera!


Alguém está com uma meta na mente. Empolgado, conta a todo mundo indiscriminadamente: família, amigos, desconhecidos... Com certeza vai malograr, porque dissipou toda a energia que devia ser guardada através do silêncio. Às vezes, conversar com algumas pessoas que estão no mesmo barco, que podem cooperar, ajuda. Não obstante, este não é o caso na maioria das vezes, então inúmeras interferências ocorrem, bloqueando a realização do objetivo pretendido. O silêncio é substancial, possui uma força enorme e sempre lhe ajuda. O segredo é a sombra que lhe protege. A sombra é a chave. Se você não possui a compulsão de revelá-lo, as chances estarão a seu favor.


O satanista busca guardar segredo. Revelar sua intimidade, projetar suas reações em nada acrescenta e só traz transtornos. Primeiro, porque a grande maioria das pessoas está preocupada com os seus próprios problemas e não se interessa pelos dos outros, a não ser hipocritamente. Em seguida, porque a maioria vai sentir inveja da sua meta e, conseqüentemente, lhe enviar cargas perniciosas. Depois, quando um segredo permanece com a pessoa, o poder é seu; se revelado, o poder passa às mãos dos outros: tudo pode acontecer.


S., uma amiga minha, pelo simples fato de gostar de ler histórias de vampirismo, teve a sua casa cercada por evangélicos armados de cruz, estaca e alho. Fico pensando: Será que eles achavam que se tratava de uma vampira igual às das lendas do Conde Drácula? Portanto, se você é satanista, evite revelar sua condição, a não ser no meio de pessoas muito íntimas, com mente sadia, ou entre os irmãos da nossa doutrina. Se sair por aí como um poseur, arrumará uma miríade de complicações, talvez alguma realmente grave. Os grupos e ordens da via esquerda não se deixam entrevistar facilmente pela imprensa, pois os membros primam pelo anonimato, de forma a preservar a sua vida pessoal, diante de parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho. Não se esqueça de que a massa é ignara em relação a tais assuntos e, portanto, adversa. Acrescento também que o fanatismo cega até as pessoas mais inteligentes.


Para possuir autocontrole, basta uma vara mágica chamada amor-próprio. O amor-próprio afasta qualquer tipo de compulsão, como os vícios. Nenhum vício pode sobreviver diante do amor-próprio, contudo é difícil tê-lo. Todo o sistema atual se baseia na renúncia de si mesmo. Se você vive rejeitando o seu ser, porque é pecador, então nunca terá amor-próprio e, mesmo que não saiba, sempre trabalhará contra si. Esta é a essência do instinto de tanatus, de que Freud falava, ou seja, do instinto de morte.


Infelizmente, os primeiros padres, associando o pecado ao instituto da confissão, impedia que houvesse qualquer segredo contra a Igreja. Não se pode olvidar que os dogmas religiosos tinham o poder de lei. Na natureza, todos os animais utilizam o segredo, a escuridão, espontaneamente. Nela não há pecados, não há doenças, frutos do stress causado pela sociedade humana. O animal se aceita totalmente.  De que adiantam as virtudes, se seus defeitos estão prontos para lhe engolir num momento de fraqueza? De que adianta uma cidade toda iluminada, se surge um black out e ocorre uma onda de vandalismos e assaltos?


Se você já fez algum tipo de meditação, é na sombra interna, no sossego do seu quarto, que você busca os insights. Ë impossível esta comunhão consigo mesmo sem passar pelo caminho da matéria. Precisa primeiro relaxar o seu corpo, o seu lado terreno, para depois focalizar a sua mente num mantra ou algo similar, tudo em segredo, em silêncio. Se algum ruído externo, como uma conversa, estiver presente, então apenas o seu tempo será gasto.


Imagine um depósito entulhado de lixo. Se você quiser fazer dele a sua morada, dificilmente ficará satisfeito se, antes, não jogar muita coisa fora e depois der uma limpeza em regra neste ambiente. Contudo, se você reparar a sua vida, é bem provável que esteja passando por isto neste momento. Há muito lixo nela e é praticamente impossível retirá-lo ou limpá-lo, mas... por quê? Porque a opinião dos outros já tomou conta de você. Cada ato que você tenta realizar, sempre surgem os apólogos da contradição. Pense bem: a vida é sua! Se você é realmente livre, respeita a esfera dos outros e impõe respeito à sua. Ninguém deve lhe dizer como conduzir a sua vida, a não ser você mesmo.


Mesmo não existindo a morte, talvez você só passe uma vez por aqui. Gostaria de voltar ao Éter como um fracassado ou como um vencedor? A opção continua sendo sua.


É preciso viver no sistema, na sociedade, mas sem ser manipulado. Você pode trabalhar, estudar, se divertir, amar, fazer as coisas do dia-a-dia, e, ainda assim, preservar-se das mil ilusões e cadeias que existem por aí. Exemplo: você lê um artigo de propaganda e sente compulsão de comprar uma roupa nova, que está na moda. Pergunte sempre a si mesmo: isto é necessário para mim ou estou apenas sendo induzido pelo sistema? Vai me trazer problemas futuros? Cuidado com a propaganda, ela é um dragão que se alimenta de pessoas. Este dragão trabalha usando a linguagem subliminar, que penetra na camada escura da sua mente, passando a lhe dominar. O fenômeno é cíclico, acompanha as estações. É óbvio que você deve comprar roupas para se sentir bem, dar expressão à sua vaidade pessoal, mas não porque o sistema está lhe impondo isto. Seja sempre Sua a opção!


A parte clara da sua mente você conhece: é revelada pelos pensamentos e hábitos usuais, razão por que ela é chamada Consciente. A parte mais profunda, o Inconsciente, é mais difícil de ser contactada. Ocorre este encontro através dos sonhos, do hipnotismo, da meditação ou em situações peculiares. No entanto, ela está sempre presente, você está sempre projetando tudo no mundo ao seu redor. Permanece oculta apenas aparentemente. É preciso eliminar os limites entre o consciente e o inconsciente, ainda porque estes limites também são ilusórios.


Na formação do ego, desde a mais tenra infância, os pais, a escola, a religião começam a moldar a personalidade de mil e uma maneiras. A repressão de certos comportamentos e o condicionamento de certas atitudes são importantes para a própria segurança da criança e de quem está a seu redor. Se um garoto fica com vontade de atirar uma pedra numa vidraça, deve-se evitar que tal aconteça, pois a sua falta de maturidade acarretará problemas.


Contudo,  as repressões tornam a sombra uma espécie de arco retesado, quando menos se espera vêm à tona, dispara a flecha, muitas vezes de forma errada. Por outro lado, a sombra é extremamente criativa, razão por que é utilizada nos rituais satânicos de forma a mudar eventos de conformidade com a vontade do mago. Lembre-se: é necessário trabalhar sempre a sombra primeiro: o resto é a porta, por onde você vai entrar. Descubra a sombra, guarde segredo e, se estiver atento, uma porta estará aberta para você, em direção ao seu objetivo. O segredo é saber que a escuridão é sempre luminosa.


Este é o momento de trazer à baila duas definições. A primeira é a de arquétipo, extraída de um livro, que é coletânea de psicanalistas junguianos sobre a evolução humana através do trabalho com a Sombra: “Os arquétipos são estruturas inatas e herdadas no inconsciente – ‘impressões digitais’ psicológicas - que contêm características formadas de antemão, qualidades pessoais e traços compartilhados com todos os outros seres humanos.” Eles são forças psíquicas vivas dentro da psique humana. De acordo com o Critical Dictionary of Jungian Analysis, ‘Os deuses são metáforas de comportamentos arquetípicos e os mitos são representações arquetípicas’. O decurso da análise junguiana envolve uma percepção crescente dessa dimensão arquetípica da vida de uma pessoa.”


Outra definição importante é sobre a egrégora, que foi retirada de uma página da Internet, cujo autor é Alexander Rhamanna Ferritt. Infelizmente, perdeu-se o endereço da página. “Egrégora poderia ser definida como uma energia resultante da união de várias outras energias.  A nível de exemplo, podemos citar o amor de um núcleo familiar, a energia que mantém uma família unida.  Caso essa egrégora fosse dissipada, a família se dissiparia, pois não haveria identificação entre seus membros. Não haveria, assim, vínculo entre eles.”

De certa forma, os dois conceitos estão interligados: enquanto arquétipo impera no nível mental, egrégora o faz no nível emocional. Ambos emanam do logos, que é a consciência cósmica.

O fator medo


O medo é considerado, ao par do amor e do ódio, um dos maiores fatores de motivação humana. Apesar de ser considerado uma emoção “negativa”, mereceu um capítulo à parte, pela sua evidente importância. Medo, pelo Novo Dicionário Aurélio, é um “sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça”.

Em primeiro lugar, o medo é enfocado como um sinal de alerta em relação ao perigo eminente. Neste sentido, é salutar e producente, porque despeja adrenalina no ser vivo e, com isso, a energia necessária para fazer frente a uma situação de perigo. Uma pessoa perfeitamente integrada sabe que o medo é funcional e não se torna escravo de sua atuação, conjuga-o mesmo a seu favor.

Se o perigo é futuro, a solução vista noutro capítulo de aceitá-lo torna-se um coadjuvante poderoso na extinção do problema, não apenas pela mudança de paradigma emocional, quanto pela recepção de idéias importantes e necessárias. A repressão ou a fuga só servem para fortalecê-lo, e certamente o problema, antes imaginário, tornar-se-á plenamente real. Além disso, será um constante foco de estresse, podendo, daí, originar até mesmo uma depressão. Um parênteses aqui: depressão é uma doença que difere do estresse, devendo ser tratada por alopatia. Estresse, na maioria das vezes, é momentâneo ou provisório.

Noutro caso, o medo também se apresenta pela sintonia com outro ser. Fulano, ao entrar num recinto cheio de pessoas, sente medo sem causa aparente. Das duas uma, ou é também um sinal de alerta inconsciente (por exemplo, devido à presença de um inimigo), ou está simplesmente captando o medo de outra pessoa. Na segunda hipótese, torna-se plenamente possível perceber quem é o emissor da emoção, e isto serve como indicador do estado sentimental de tal pessoa; neste caso torna-se útil, se não houver a ilusão de que a fonte é o próprio Fulano. Infelizmente, muitos sensitivos, por não conhecerem esse processo, passam uma vida miserável, agrilhoados ao medo. Refutam mesmo seus dons, achando que só lhe trazem problemas.

Às vezes, o medo surge como subproduto de uma egrégora. É o que acontece em inúmeras religiões, que constroem o medo artificial, de forma a envolver e escravizar seus seguidores. Daí se falar em “ira de Deus”, “salvação do inferno”, “reencarnação purgativa” e demais anátemas. Uma determinada religião outorga-lhe o medo e, com isso, controla sua vida. Leva-o a agir de modo antinatural, inversamente à sua índole, pelo medo das possíveis conseqüências que advirão, diga-se de passagem conseqüências absolutamente falsas, pré-fabricadas com o único escopo de lhe tolher. É o processo de automação do ser humano.

Por outro lado, o constante temor é uma espécie de imã, capaz de atrair situações nefastas. Uma pessoa está passeando de bicicleta, repentinamente vê um buraco e sente medo. Logo em seguida, cai no buraco. Coincidência? Não, o temor atraiu a situação. Observe que tal temor, quando conscientemente percebido como um aviso, não irá

atrair o buraco; é a fixação no medo, quando este assume o controle, que atrai o fato funesto.

O medo é usado por vários estrategistas como forma de manipulação e logração de objetivos. Robert Greene cita: “Mantenha os outros num suspense terrorífico; cultive um ar de imprevisibilidade.” Muitos magos usam o medo na magia manipulativa. Poucas pessoas sabem lidar com o medo, portanto é um grande aliado para conseguir o se quer. Já dizia Miguel de Cervantes que “quem perde sua coragem, perde tudo”. Observe que pessoas medrosas são facilmente manipuláveis. Basta criar o medo e sua possível solução, esta dependente da vontade do manipulador, que aquiescerá após ter obtido seu intento. O covarde fará tudo para sair da situação desagradável em que se acha, dando como paga a própria liberdade; esquece, contudo, que se tornou um escravo, que o chantagista usará o mesmo método sempre que lhe aprouver, sem nenhum remorso ou peso na consciência, típicos, aliás, dos fracos de propósito. Como todos possuem seus pontos frágeis, o medroso facilmente escaparia das malhas da chantagem emocional, contudo o raciocínio embotado e a emoção vilipendiada não lhe permitem enxergar com clareza.

Quanto ao satanista, sabe que o medo é sempre seu aliado, e não se deixa enredar pelas maquinações de terceiros, dando a paga na mesma moeda. Se incute o medo em terceiro, fá-lo para lograr um objetivo necessário segundo sua óptica, para se defender de um perigo ou obter algo importante. Um satanista não é um vampiro psíquico, mas não se deixa conduzir por moral alguma. Usa o medo conforme sua vontade e depois o descarta. E, se alguém deseja ser escravo em/de determinada situação, nada mais sábio que a fórmula crowleyana que o escravo servirá, mas que sirva consciente de sua condição de ser inferior, dependente e não-emancipado, coisa que as religiões “divinas” usaram e abusaram em proveito próprio, mas sem nunca tornar o escravo consciente de sua condição.

Importância do estudo do plano astral


Realmente, o melhor método de interpretação de sonhos é através de signos lingüísticos. Nenhum manual de sonhos ajuda, pois não focaliza o contexto onde se desenvolve o sonho. A pessoa tem de interpretá-los valendo-se deste método lingüístico, que também é usado na interpretação de várias obras literárias, principalmente as relacionadas ao estilo do Simbolismo.

Um sonho é similar a uma parábola. Há vários signos nele. A análise contextual por intermédio dos signos pode oferecer valiosa ajuda. Isoladamente, um signo não possui muito valor. Se alguém sonha com uma cobra, ela pode ter inúmeros significados, como a energia kundalinica, tentação, sedução, traição, tesão e  muito mais. Deve-se analisar o contexto onde o ofídio se encaixa. Vou citar outro exemplo: Uma pessoa sonha com um incêndio, depois vê uma moça parada num semáforo vermelho, aproxima-se dela e lhe oferece uma rosa. Há três símbolos de paixão aí: o incêndio (devastação da paixão), semáforo vermelho (pedindo a sua parada obrigatória diante do objeto do seu amor) e a rosa (por demais óbvia!). Por conseguinte, o sonho provavelmente estará lhe indicando que você está apaixonado por uma mulher, ainda que não o saiba em nível consciente. Isoladamente, noutro contexto, qualquer um dos símbolos poderia ter outro significado. Mais um exemplo: certa vez uma pessoa sonhou que estava percorrendo uma estrada sinuosa e, num dado momento, o carro onde viajava rolou pela ribanceira. Quando contou o sonho ao médico, este pediu que desenhasse a estrada percorrida e onde o carro havia despencado. Ficou constatado mais tarde que a estrada era a forma do intestino da pessoa e que o problema achava-se  onde o carro caiu. Na Bíblia, foi relatado o sonho do faraó, interpretado por José, sobre as sete vacas gordas e as sete vacas magras, uma premonição sobre os sete anos benfazejos e os sete anos paupérrimos por que o Egito ia passar. Os sonhos de Abraão, Nabucodonosor, Penélope, Cliptemnestra, o famoso íncubus que alimentou o Santo Ofício, até os estudos oníricos efetuados por Freud e outros psicanalistas mostram a relevância do tema abordado.

Isto não ocorre apenas em nível de sonho, mas a própria natureza comunica-se também desta forma, afinal a vida não passa de um sonho congelado. Quem for sensível poderá percebê-lo no próprio cotidiano. F. estava passando por uma situação financeira apertada. Sentado no sofá, ouviu um ruído na janela, quando a abriu um bem-te-vi entrou em casa, como um foguete, e saiu pela outra janela. Veio-lhe a percepção (ou intuição) de que só a Águia representa uma ave que voa tão rápido assim, correlacionada com o popular jogo do bicho. Jogou o grupo na cabeça e conseguiu o dinheiro necessário para sobreviver até o final do mês. Antes que alguém me acuse de incentivar a jogatina, afirmo que sou contrário a qualquer forma de jogo que sugue o dinheiro da pessoa, pois isto não passa de vampirismo monetário. Por outro lado, incentivo os que possam realmente acrescentar algo, como o Xadrez, que desenvolve o raciocínio. Citei o fato apenas por exemplo.

Leve-se em conta que, por ser extremamente pessoal, tanto o sonho desperto, quando o dormindo, não devem ser revelados levianamente a ninguém, a não ser em casos especiais, como um psicanalista que esteja lhe ajudando. No sonho, a pessoa recebe informações importantes, porque está totalmente relaxada. Acordado, o mesmo pode acontecer, se a pessoa estiver receptiva. Aliás, a receptividade é uma importante chave mágica.

O descaso para com o campo onírico é fruto, em parte, da existência de pretensos manuais de interpretação, que para nada servem, bem como retóricas intelectuais, que só afastam o leigo de um estudo mais sério. Enfim, o ideal é anotar os sonhos, ainda de madrugada para criar um vínculo maior com o plano onírico. Tal vínculo permite ter o sonho lúcido, também conhecido como viagem astral, dentro do próprio sono, evitando o medo da morte, nas tentativas conscientes, bem como possíveis bloqueios pela educação religiosa. Falo, de fato, da criação de um diário mágico, IMPRESCINDÍVEL para qualquer mago.

Um adendo aqui. O seu diário é apenas para os seus olhos. Guarde-o num local de difícil acesso a terceiros e, se possível redija-o em código próprio ou num idioma como árabe, japonês, que dificulte o entendimento por quem acidentalmente o tenha em mãos. A razão é simples: o curioso passa a conhecer os seus segredos mais íntimos. Muitas ordens pedem que o neófito apresente um diário mágico. O Autor denuncia tal pretensão: ninguém possui o direito de entrar na intimidade de ninguém. Entregar um diário mágico como pré-requisito para mudança de grau é uma atitude infame.

No diário mágico, devem ser anotados não só os sonhos, mas as práticas mágicas e os fatos relevantes do cotidiano. Algumas vantagens no uso do diário mágico são as seguintes:

·        Possibilitar o sonho lúcido. O ideal é anotar todos os sonhos, ainda de madrugada, o mais minuciosamente possível e depois voltar a dormir.

·        Em caso de algum ataque astral, permite a tomada de consciência no próprio sonho e  a reação adequada, defendendo-se e eliminando o problema por completo.

·        Possibilita o estudo do sentido dos sonhos, com base nos signos lingüísticos. Em alguns casos, arquétipos plenamente estabelecidos, como o do Tarot, também auxiliam a interpretação.

·        Descrever os rituais praticados com precisão, relatando todas as experiências relacionadas a ele, bem como a sua conclusão.

·        Auxilia a observação da evolução da prática mágica em relação a tendências futuras e o reestudo das anteriores.

·        Relacionar idéias importantes que lhe venham à mente, para uso futuro.

·        Anotar os fatos relevantes do dia-a-dia, para posterior comparação.

·        E muito mais! Lembre-se de que o limite é o da própria imaginação. Os relatos devem ser o mais preciso possíveis!

Além do método da anotação dos sonhos, o autor sugere outra idéia para facilitar a viagem astral. Após se deitar e relaxar na cama, contemple o corpo como se, de fato, estivesse dormindo. Aja naturalmente em relação a qualquer incômodo, como uma resposta automática do próprio corpo. Depois de cerca de uns 20 minutos, sentirá a vontade imperiosa de mudar de posição. Mude de posição e tente, agora, dormir. Semanalmente, tenho viagens astrais, algumas vezes duas por semana, graças a esta técnica, elaborada por mim.

No sonho lúcido, a pessoa interage instantaneamente em qualquer tempo-espaço, sem o muro da causalidade. O segredo é a vontade. Se quer ir a determinado lugar, basta a

vontade. A sensação de voar no plano onírico é simplesmente indescritível, tamanha a emoção de liberdade e felicidade, só quem passou por esta experiência pode realmente saber o que significa.


Neste exato momento, alguém perguntará: Você fala muito no plano físico e no plano astral, mas e os demais planos? O autor responde que estes são os únicos planos que devem ser levados em conta. Os outros são apenas teóricos ou subtipos do plano astral. Há quem cite, por exemplo, um plano mental, mas a consciência rola também no sonho lúcido, ou seja, a mente (não o cérebro) interage em ambos os planos. Portanto, é melhor se preocupar com o que se tem a mão.