sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os Gêmeos Sombrios

 

- destruição e criação como ferramentas transformadoras -
 

Todos os deuses e todos os demônios são apenas reflexos de um deus maior que é o ser humano. Todos os homens e mulheres são uma Legião diferente, composta pelos mesmos deuses e demônios.  Um satanista portanto, conhece a diferença entre os arquétipos de Lúcifer e Satã, mas sabem que ambos são parte de um todo maior, e como ambos representam momentos necessários para a emancipação do Eu Superior.
Lúcifer e Satã são os chamados Gêmeos Negros do Satanismo Moderno, pois representam dois princípios universais inerentes a qualquer processo de transformação.  Talvez seus papéis sejam melhor entendidos se  apelarmos para uma visão paralela de um outro mito distinto da escatologia abraâmica mas que seja igualmente representativo. A mitologia Egípcia se presta com perfeição a esta função, dada sua riqueza de significados.
Comecemos com Satã,  o Profeta do Eu Superior, o guardião da sombra e arauto do Self. Satã relaciona-se profundamente com a figura do deus egípcio Seth, ambos são faces distintas de uma mesma representação do inimigo primordial do status quo,  que na verdade formam em conjunto atores diferentes de um mesmo papel arquetípico, inerente ao inconsciente coletivo. É interessante então conhecermos o mito de Seth para compreendermos com maior riqueza de detalhes a importância de Satã no estabelecimento do Self.
Temos que lembrar que na mitologia egípcia, Ísis, fez nascer Osíris de si mesma. Isis é a mãe primordial uterina comum a tantas culturas, representa a terra e a comunhão feminina com a natureza,  a ligação com a Terra, o primeiro Aeon. A Era de Isis é a mesma era que os wiccans de hoje buscam trazer de volta à tona, ignorando que talvez nem mais sua mãe nem seus filhos são os mesmo de outrora.
Osíris, como era de se esperar, não pode compreender sua Mãe e subjulgou-a e a escravizou, consumando assim o reinado patriarcal, o segundo Aeon que teve seu ápice na ascensão do cristianismo, e que se caracterizou por uma postura antinatural e apolínea com ar de santidade metafísica.
Assim sendo, Seth, assassina Osíris que é seu próprio irmão esquartejando seu corpo e espalhando-o ao longo do Nilo, e é exatamente por isso que, como Satã, ele é tido como o deus inimigo, o deus da guerra, da desordem e da destruição. E isso não é mentira, Seth é de fato inimigo, guerreiro, desordeiro e destruidor de toda a mentalidade escravocrata dos tempos antigos e do reinado de Osíris. Este é o papel de Satã, opor-se a uma mentalidade antiga para que algo novo possa surgir.
Como eu disse, a mentalidade humana tanto dos filhos como dos deuses, já não era a mesma. O que aconteceu foi que Isis havia se acostumado com seu papel de escrava. Com a morte de seu esposo e senhor, sem orientação passou a contornar todo o Nilo recolhendo os restos de seu falecido Osíris. Com seus pedaços em mão o devolveu para seu útero e lá este foi recriado como Hórus, o novo deus regente.
Microcosmicamente isso simboliza a emancipação do ser em uma nova postura de reconhecimento do Self. Macrocosmicamente simboliza o Inicio do Aeon de Hórus, da Nova Era, ou da Era Satânica, se assim preferirem chamar. Neste caso Hórus corresponde perfeitamente com alguns aspectos do mito de Lúcifer. Tanto um como outro são reis de um novo reino. Assim como Lúcifer, Hórus se rebela contra o sistema imposto por seu antecessor, em primeiro lugar libertando sua Mãe e em segundo destruindo todos os preceitos que Osíris instituiu, e por fim vingando a morte de seu “pai”.
Podemos constatar que se não fosse Seth, Hórus jamais nasceria e o Aeon de Osíris nunca se transformaria, seja no coração do homem seja manifestando-se em mudanças sociais no nosso planeta. Por outro lado, se não fosse Hórus, de nada adiantaria a vã oposição de Seth e o jugo totalitário de Osíris continuaria existindo mesmo sem ele. Ambos são de fato tão importantes para o estabelecimento do Novo Reino que após libertar sua Mãe, Hórus mata Seth e o absorve em si mesmo tornando-se um só com ele.
Igualmente unos
Satã é a luta, o poder, e a oposição a tudo que só serve para subjugar o ser humano. Lúcifer é o arquétipo da iluminação, do estabelecimento do novo. Cada um tem o seu papel na realização suprema do ser humano e ambos são igualmente importantes. Isso fica claro no provérbio chinês que diz; “se o velho não vai o novo não vêem”.
Satã sem Lúcifer é simples destruição que termina em niilismo e vazio. Lúcifer sem Satã é uma infrutífera busca por algo novo sem se desprender dos antigos grilhões.  Estes são somente nomes para momentos diferentes do reconhecimento do nosso Self. Contudo cada momento é essencial na medida em que morte e nascimento, guerra e paz, amor e ódio, negação e afirmação são igualmente importantes para o nascimento de uma Nova Era Satânica.
Metamorfosear-se no arquétipo de Satã e mais tarde no de Lúcifer e então uní-los para a ascensão do Self, são os passos igualmente importantes para opor-se tanto ao sectarismo quanto ao substancialismo. Quando isso acontecer na mente de cada satanista então, assim como era antigamente, tanto Hórus como Seth, tanto Satã como Lúcifer, estarão presentes para o dia da coroação em que um novo deus despertará sobre a terra para dominá-la.  Dotado da dupla coroa, poderá então desvelar seu Eu Superior e abraçará a liberdade perfeita que só existe no ventre de Baphomet.