sábado, 22 de maio de 2010

A Criatura do Abismo

- Leviathan e o abismo interior -

“Quem parte para lutar com os monstros deve acautelar-se pois se torna um monstro também, quando você olha para o abismo ele olha de volta pra você." -  Friedrich Nietzsche

“Há uma besta no homem, que precisa se exercitada, não exorcizada.” - Anton Szandor LaVey

O Coração de todo homem e toda mulher é como um oceano do qual muitos só conhecem o exterior. Mergulhar nestes mares é tarefa dos poucos que tem coragem o bastante para atirar-se em direção a sua própria imagem refletida no espelho d’agua e encontrar assim realidades insuspeitas no fundo do abismo interior. A lei dos fracos é aprender a boiar e se deixar levar pela correnteza sem nunca submergir a cabeça e abrir os olhos para níveis mais profundos de compreensão. Para muitos é difícil aventurar-se neste oceano, pois no fundo deste negro mar habita um monstro que é arredio e repulsivo ao olho do covarde, mas que é um verdadeiro amigo do satanista. Esta criatura recebe o nome de Leviatan, o príncipe coroado do inferno que raramente sobe à superficie das personalidades fracas, senão para destruí-las.
Leviatan é um dos quatro arquétipos básicos do satanismo e é certamente o mais misterioso dentre eles. Não é intrigante o fato de poucos satanistas conhecerem este demônio a fundo, afinal, o mistério e o enigma são de fato parte integrante de sua própria definição como forma-deus. A criatura do abismo é um ser fugidio por natureza. Seu nome vêem do hebraico e significa “Serpente Tortuosa” e relaciona-se por excelência com seu elemento, a água, mais especificamente com o mar. Assim como os oceanos são poderosos e misteriosos, Leviatan é, ao mesmo tempo, um gigante, e mesmo assim, raramente visto. Ele (ou Ela) possui aspectos multiformes, estonteantes e vertiginosos, mas sempre ocultos. Desta forma este representa o início da emancipação com a "Visão do Abismo", ou seja, ele convida todos a compreenderem e aceitarem do lado sombrio da mente humana.

A Grande Serpente do Mar é conhecida e temida por sua bestial ferocidade. Ela destrói tudo e todos aqueles que estão em sua frente mas curiosamente defende os pequenos peixes e seres marinhos que vivem nas mesmas águas em que habita. E é exatamente este o proceder de nossa Sombra interna. Em psicologia aprendemos que a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, onde fica registrado tudo aquilo que é reprimido pela consciência, incluindo desejos sufocados, memórias esquecidas, e tendências e experiências rejeitadas pelo indivíduo.

Leviatan é formado por todos estes agregados psíquicos. Ele é o Self Negativo que precisa ser conhecido e aceito antes de partirmos rumo ao Self Total e à articulação plena com Baphomet. Quando não é reconhecido pela consciência Leviatan pode se tornar um perigoso inimigo, pois a pessoa passa publicamente a projetar seus “defeitos” nos outros e aprende a secretamente odiar a si mesmo. Isso, é claro, quando tudo aquilo que acumulamos de medos e conflitos internos não se manifesta fisicamente na forma de comportamento auto-destrutivo e doenças psicossomáticas.

O primeiro passo da jornada satânica é portanto corajosamente mergulhar no mar interior e procurar reencontrar este nosso esquecido amigo. Quando tudo aquilo que antes recusávamos em nós mesmos se torna consciente a Sombra pode manifestar-se como parte integral de nossa própria natureza. É preciso reconhecer esta nossa fera interna, o lado animal do ser humano renegado às sombras da psique, que mora no abismo e no mar negro que alguns chamam de mente.

Este nosso lado jamais poderá ser eliminado, pois mesmo quando fortemente reprimido, como acontece com os devotos religiosos e com os seguidores misticalóides do caminho da luz, ele jamais pode ser morto definitivamente. Quando ferido Leviatan se retira para as profundezas inalcançáveis da mente, onde se fortalece e usualmente retorna com mais força e poder, até que invariavelmente exploda compulsivamente no comportamento da pessoa. Este príncipe Infernal constantemente sobe à tona de seu negríssimo mar e pode ser visto em sonhos, atos falhos e projeções psíquicas urrando tudo aquilo que todos aqueles que o negam gostariam de esquecer.

Ganhar a amizade de Leviatan é passar a conviver com ele em suas águas, se aceitando por completo sem renegá-lo. Por isso a importância de rituais Licantropos que servem para guiar o adepto no auto-conhecimento de seu lado negro vivendo em uma comunhão draculesca entre a fera e o nobre. Lembre-se sempre disto: Leviatan não pode ser morto, não pode ser esquecido, não pode ser ignorado. Ele está sempre lá, mais perto de você do que sua veia jugular, ameaçando seus opositores a sofrer explosões de raiva e irracionalidade provocados por sua revolta.

Por fim resta dizer que a fera do abismo chamada Leviatan é muito mais do que simplesmente impressões rejeitada em nossa psique. Este príncipe coroado do inferno é também um depósito de considerável energia instintiva, energética e criativa que pode ser usado com maestria por quem tiver a coragem necessária. Mas vede irmãos em Satã! não é à toa que seu nome é Serpente Tortuosa! Pois quando pensamos que finalmente a reconhecemos e a capturamos ela desaparece e reaparece sob outra forma. Conviver com Leviatan é um trabalho diário para toda a vida, especialmente para aqueles que buscam o aprimoramento pessoal. Por mais paradoxal que pareça a principio, ter defeitos é certamente uma das características de um ser perfeito e a chave para o sucesso é um profundo entendimento sobre si mesmo. Olhar para o espelho da alma e, sem receio nenhum, refletir sobre o que é visto por lá.